quarta-feira, 7 de março de 2012

Fazendas Verticais

E já que estamos estudando diferentes tipos de paisagens, vejam essa reportagem da revista Planeta edição de fevereiro de 2012
FAZENDAS VERTICAIS

No futuro, compraremos verduras no arranha-céu da esquina, escolhendo cultivos frescos por andar. Nas maiores cidades do mundo, multiplicam-se os projetos de plantações verticais. Conheça a roça high tech.


No futuro, quem quiser comprar morangos poderá ir a um arranha-céu de 30 andares envidraçados, ao lado de casa, e procurar em cada piso a produção do cultivo da sua escolha. O prédio será urbaníssimo, mas até certo ponto: trata-se, mesmo, de uma roça high tech produtora, o ano todo, de alface, espinafre, ervas aromáticas, frutas, legumes, frangos e peixes. A cena pode parecer ficção científica, mas para os idealizadores das fazendas verticais deverá ser realidade em curto prazo.
Sete bilhões de bocas para alimentar serão provavelmente 9 bilhões em 2050. Como arranjar comida para todos? As áreas de cultivo serão cada vez mais escassas, longínquas e a demanda de produção, cada vez maior. Se o ser humano vive em residências alinhadas verticalmente para aproveitar o espaço urbano, por que não usar o mesmo conceito para a agricultura? As fazendas verticais serão o próximo passo.
A ideia de agricultura intensiva em canteiros verticais existe pelo menos desde o início do século 20, mas o conceito de um sistema agrícola fechado em arranha-céu foi proposto pela primeira vez peloecólogo norte-americano Dickson Despommier, professor de microbiologia da Universidade de Columbia, em Nova York, autor do livro the vertical farm.
A ideia já foi adotada por diversos arquitetos ao redor do mundo, que imaginaram projetos futurísticos de prédios verdes, nas quais o urbano e o rural se misturam. Na prática, entretanto, nenhum arranha-céu agrícola já foi construído. A viabilidade comercial do empreendimento não foi demonstrada, sobretudo tendo em vista o alto custo do metro quadrado urbano e os gastos de energia dos projetos. A especulação imobiliária não dá sinal de perder a rentabilidade para a produção agrícola.
As fazendas verticais de Despommier são arranha-céus de 30 andares, onde plantas e animais são criados em ambiente fechado, com temperatura, umidade, emissão de gás carbônico e iluminação controladas. Na teoria, poderiam produzir mais e de maneira mais ecológica do que os métodos usados pela agricultura tradicional. A principal vantagem é a proximidade com o consumidor, diminuindo os custos de transporte e as emissões de gases de efeito estufa decorrentes.
Em tese, todas as plantas cultiváveis por hidroponia – o cultivo sem solo, em solução de água e nutrientes minerais – seriam aceitas nas fazendas verticais. De acordo com os defensores do conceito, o consumo de água seria 90% menor do que na agricultura tradicional. Em alguns casos também podem ser usadas técnicas de aeroponia – o cultivo de plantas com raízes aéreas alimentadas por gotas de nutrientes.
É claro que a inexistência de fazendas verticais em operação alimenta o ceticismo dos críticos. Acalefação e a iluminação artificial por meio de lâmpadas LEDs, em substituição à luz do sol, consomem muita energia, em vários países proveniente da queima de combustíveis fósseis, o que encareceria o projeto em termos econômicos e ecológicos. “Antes de qualquer coisa, devem ser feitos testes em fazendas-protótipo; a Coreia do Sul e o Japão já estão fazendo isso”, afirma Despommier.
Numa fazenda vertical, todos os elementos que contribuem para o crescimento da planta são controlados, permitindo uma produção regular constante, em todos os meses do ano, mesmo duranteintempéries. O ambiente protegido assegura outra vantagem: uso reduzido de agrotóxicos. “A fazenda vertical é um circuito fechado, portanto podemos impedir a entrada de certas pragas, construindo-a de forma apropriada, em ambiente seguro e controlado, tal como hospitais”, exemplifica Despommier.
Projetos menores, em pequena escala, estão sendo criados em várias cidades. Alguns são grandes estufas térreas com plantas dispostas verticalmente e movimentadas para obter a mesma iluminação solar; outras são cultivos em ambientes fechados, com dois ou três andares, sem luz do sol, inspirados na ideia do vertical farming, mas longe dos 30 andares imaginados por Despommier.
A empresa holandesa PlantLab cultiva, em Den Bosch, morangos, milho, pepinos e pimentas sob a luz azul e vermelha de LEDs, controlados por computador. Em Suwon, na Coreia do Sul, funciona uma próspera fazenda de alfaces em um prédio de três andares. Em Kyoto, a empresa japonesa Nuvegeproduz alimentos em 5.2 mil m2 de plataformas hidropônicas que funcionam 365 dias por ano em qualquer ambiente do mundo.
Em Paignton, na Inglaterra, o jardim zoológico local decidiu usar o conceito para produzir verduras para os animais. O sucesso levou o coordenador do Departamento de Áreas Verdes, Kevin Frediani, a ampliar a produção para atender também ao restaurante do parque. 
Nova York é muitas vezes citada como modelo do futuro para as fazendas verticais idealizadas por Despommier, mas São Paulo também é vista como outro local ideal para a implantação dos edifícios verdes. O arquiteto Rafael Grinberg Costa projetou a implantação de fazendas verticais para a cultura hidropônica de verduras e legumes na área dos antigos edifícios São Vito e Mercúrio, ao lado do Mercado Municipal, no centro da capital paulista. “Existe uma grande aceitação do projeto, tanto em termos políticos quanto junto à população. Também há cidades de pequeno por porte interessadas", garante Grinberg.
Recentemente, o arquiteto paulista prestou uma consultoria para a Associação de Amigos e Moradores do bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, para transformar o edifício do antigoHospital IV Centenário em fazenda vertical, mas o projeto foi abandonado e o prédio continua vazio. “O Brasil pode ser o primeiro país a implantar uma verdadeira fazenda vertical. Se investir no conceito, poderá replicá-lo e vender a tecnologia para outros países”, afirma o arquiteto.
Fonte: Revista Planeta 

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